Texto para as questões de 01 a 04

"DE GENRO E SOGRO" 
(José Lins do Rego)

O Capitão Tomáz não deixou que a filha fosse morar fora de sua casa. O engenho era pequeno mas dava para todos, Mariquinha ficara radiante com as vontades do marido. E assim o genro estria ao lado de todos como filho. Os primeiros meses do casal foram como de todos os outros. A princípio o capitão estranhou o jeito caladão do primo. Ficava o rapaz naquela rede do alpendre horas inteiras, lendo jornais velhos, virando folhas de livros. Não era capaz de pegar um cavalo e sair de campo a fora para ver um partido. Em todo caso tomou por acanhamento. Sem dúvida que não achava que fosse direito estar a se meter na direção do engenho. Mandasse o sogro. O velho, porém, quis por o genro à vontade, e um dia falou-lhe. Dava-lhe o partido de cima para que tomasse conta. Ele ali seria como filho, teria toda a força de mando. O rapaz ouviu calado as palavras do capitão e deu para sair pela manhã para olhar os serviços. Os negros se espantavam com aquele senhor de olhar abstrato, vestido como gente da cidade, sempre de gravata, olhando para as coisas como uma visita. O capitão não se satisfazia com a orientação do genro. Negro precisava de senhor de olhos abertos, de mãos duras. O genro pareceu-lhe uma leseira. Disse mais de uma vez a Mariquinha:
(A) - O primo Lula ainda não tomou tenência na vida. Está aqui há seis meses, e parece que chegou ontem.
- Termina se ajeitando – dizia-lhe a velha – É rapaz acanhado. A filha se angustiava com a desconfiança do pai. De fato o marido não parecia homem, como era a sua gente. Era alheio à vida que o cercava. D. Amélia procurava interessá-lo.

- Lula. Como vai o teu partido? E Lula falava das coisas sem interesse. Gostava de ouvi-la ao piano. No começo todos de casa pensavam que fossem dengos de casados de novo. Todas as tardes os dois ficavam na sala de visita. O marido no sofá grande e a mulher, no piano, dando tudo que sabia. - Toca aquela varsoviana. Ela tocava, tocava tudo que não esquecera.

A mãe achava bonito tudo aquilo. Assim devia ser um marido, homem que vivesse perto da mulher, como gente, sem aquela secura, aquela indiferença de Tomás. Felizmente que a sua Amélia encontrara um homem de natureza tão boa, tão amorosa. As negras elogiavam os modos do jovem senhor. Parecia uma estampa de santo, com aquela barba de S. Severino dos Ramos, com aqueles modos de fidalgo, todo pegado com a mulher como só se via na história de príncipes e de princesas. O capitão era que não podia entender o gênio daquele rapaz. Lembrou-se de sua vida de casado no Ingá, dos primeiros dias, e achara tudo aquilo do primo como um absurdo. Não falava nada para não contrariar a filha de rico. O rapaz, pensou, não criava gosto pelo trabalho. Sentia-se velho e tinha medo de deixar o Santa Fé sem um pulso como o seu para governá-lo. Era um engenho pequeno, que pedia um homem de seu calibre, homem que soubesse mandar, de tino, de força. O genro não lhe inspirava confiança. Dissera mesmo a Mariquinha:
- Este teu genro está me parecendo um banana. A mulher se ofendeu com sua opinião. E falou-lhe como nunca ouvira ela falar com tanta arrogância. 
(José Lins do Rego. Fogo Morto. Livraria José Olympio, Rio, Páginas 146-147)

01. QUESTÃO

O senhor do engenho queria Lula morando com ele porque:
A) "...tinha medo de deixar o Santa Fé sem um pulso."
B) "Negro precisava de senhor de olhos abertos..."
C) "....estaria ao lado de todos como um filho."
D) "...não se satisfazia com a orientação do genro."

02. QUESTÃO

Na opinião de Mariquinha, o rapaz:

A) não criara gosto pela mulher
B) falava à mulher sem interesse
C) não tinha pulso para o Santa Fé
D) não via a mulher como um objeto
E) via a mulher como um objeto

03. QUESTÃO

A alegria de Mariquinha foi devida:

A) aos bons desejos do noivo
B) ao fato de o engenho dar para todos
C) aos desejos do Capitão Tomás
D) ao fato de o genro se tornar um novo filho

04. QUESTÃO

O autor revela um costume de época e da região: 

A) as brigas de genro e sogro 
B) o parasitismo do homem da cidade 
C) o casamento infeliz 
D) o casamento entre membros da mesma família
E) o casamento feliz entre membros da mesma família

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