O INCÊNDIO
- A frente do Ateneu apresentava o aspecto mais terrível. De vários pontos no telhado, semelhando colunas torcidas, espiralavam grossas erupções de fumo; irrompia também por braços imensos, que pareciam suster a mole incalculável de vapores no alto. Com a falta de vento, as nuvens, acumuladas e comprimidas, pareciam consolidar-se em vaporosos rochedos inquietos. Às janelas do primeiro andas as chamas apareciam, tisnindo os umbrais, enegrecendo as vergas. Tratadas a fogo, as vidraças estalavam. Distinguiam-se na tempestade de rumores o barulho cristalino dos vidros na pedra das sacadas, como brindes perdidos da saturnal da devastação.
- Nos lugares ainda não alcançados, bombeiros e outros dedicados arremessavam para fora camas de ferro, trastes diversos, veladores, que vinham espatifar-se no jardim, com um fracasso esmagamento. As imagens da capela tinham sido salvas no princípio do incêndio. Estavam enfileiradas ao sereno, à beira de um gramal, voltadas para o edifício, como entretidas a ver. A Virgem da Conceição chorava. Santo Antonio, com o menino Jesus no colo, era o mais abstrato, equilibrando a custo um resplendor desproporcional, oferecendo ante os terrores a amostra de impassibilidade do sorriso palerma, que lhe emprestara um santeiro pulha.
- O trabalho das bombas, nesse tempo das circunscrições lendárias, era uma vergonha. Os incêndios acabavam de cansaço. A simples presença do Coronel irritava as chamas, como uma impertinência de petróleo. Notava-se que o incêndio cedia mais facilmente sem o empenho dos profissionais do esguicho.
- No sinistro do Ateneu a coisa foi evidente. Depois das bombas, a violência das chamas chegou ao auge. Do interior do prédio, como das entranhas de um animal que morre, exalava-se um rugido surdo e vasto. Pelas janelas, sem batentes, sem bandeira, barrotes, acima de invisíveis braseiros, como animados pela dor, recurvavam-se crispações terríveis, precipitando-se no sumidouro. No meio da multidão comentava-se, explicava-se, definia-se o incêndio.
- Que felicidade ser o desastre em tempo de férias! Dizem que foi proposital..."
(POMPÉIA, Raul – O ATENEU – Ed. De Ouro – Rio de Janeiro – Páginas 214 e 215)
05. QUESTÃO
A) a inutilidade dos santos
B) as crendices populares
C) o esforço inútil para conter as chamas
D) o sucesso dos bombeiros em apagar o fogo
E) a grande importância dos poderes dos santos
06. QUESTÃO
Em que opção a palavra "diversos"(linha 11) não encontra correspondente?
A) diferentes trastes
B) vários trastes
C) trastes diferentes
D) trastes vários
E) distintos trastes
07. QUESTÃO
A) eficiente
B) eficaz
C) producente
D) contraproducente
E) positivo
08. QUESTÃO
A) que não é barato
B) com dificuldade
C) demoradamente
D) abruptamente
E) com eficiência
09. QUESTÃO
"mole" (linha 03) tem como equivalente semântico:
A) que cede à compreensão
B) preguiçoso
C) sem energia
D) volume enorme
E) indolente
10. QUESTÃO
Há insinuação de que o incêndio fora:
A) obra do acaso
B) proposital
C) um mal necessário
D) uma imprudência
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