A árvore da serra
— As árvores, meu filho, não têm alma!E esta arvore me serve de empecilho...É preciso cortá-la, pois, meu filho,Para que eu tenha uma velhice mais calma!— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...Esta árvore, meu pai, possui minh'alma...— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”Enquanto a árvore, olhando a pátria serra,Caiu aos golpes do machado bronco,O moço triste se abraçou com o tronco.E nunca mais se levantou da terra.
(Augusto dos Anjos)
Assinale a única alternativa que caracteriza a poesia de Augusto dos Anjos:
[A] A dramatização evidente no soneto representa a dualidade presente na alma do poeta entre o racionalismo de base científica e a religiosidade que persistia em seu íntimo.
[B] A natureza no soneto ilustra a busca do indivíduo pelo esforço acolhedor, pelo lugar ameno em que a artificialidade da vida humana não tem valor.
[C] O soneto, ornamentado com referências neoclássicas, afirma uma crença no progresso da humanidade, no triunfo do belo, do santo e do justo, pelo exercício da razão.
[D] Os versos são repletos de sinestesias e hipérbatos que valorizam uma experiência sensorial e leva quem lê a perceber a existência de uma dimensão que se esconde além da realidade concreta.
[E] O soneto apresenta uma visão antropocêntrica do eu-lirico ao recuperar modelos da Antiguidade Clássica a fim de elevar a clareza, a harmonia e o equilíbrio poéticos.
Augusto dos Anjos foi um poeta pré-modernista. O seu estilo costuma ser marcado por cientificismos ligados à biologia e à física. Além disso, sua obra produz, inclusive, algumas ironias à religião, principalmente a católica.
A dualidade dramática no soneto “A árvore da serra”está no choque de gerações entre pai e filho. Já a religiosidade estaria no verso “Deus pôs almas nos cedros, no junquilho.”
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