Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com a inexistência de transporte público de massa por ali.
Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.
Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas. Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma determinada cidade.
Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.
A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área, não destruí-la.
Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica, quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus sem dar vazão a desembarques, a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas.
Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a idéia ali era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte público.
Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes, ótimo.
Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa circular por São Paulo. (Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)
(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona Oeste da cidade de São Paulo.
1ª QUESTÃO
(ITA) Todas as opções abaixo estão respaldadas no texto. Assinale a que contém a ideia central.
A) O transporte público exige medidas técnicas e administrativas, além de cuidado com a paisagem urbana.
B) As pessoas contrárias à instalação da estação do metrô são movidas por preconceito.
C) Os paulistanos constroem o espaço onde vivem de modo a se isolarem das adversidades sociais.
D) As experiências de transporte público de outras cidades poderiam ser adotadas em São Paulo.
E) A instalação de linhas de ônibus e de metrô deve propiciar o desenvolvimento da área em que se encontram.
2ª QUESTÃO
(ITA) O fato de parte de moradores de Higienópolis recusar a instalação de uma nova estação de metrô na avenida Angélica é justificável, uma vez que
A) o isolamento em condomínios fechados é preferível para eles.
B) o poder público não desmentiu a possível degradação do espaço público com a instalação do metrô.
C) a chegada de transporte de massas não traria melhoria para a região.
D) não há público para o uso dessa linha de metrô.
E) eles usam mais seus carros e não necessitam do metrô.
3ª QUESTÃO
(ITA) Leia os seguintes enunciados:
I. Partindo de um fato noticioso – a reação de moradores diante da intenção da Prefeitura de São Paulo em construir uma estação do metrô na Avenida Angélica –, o autor questiona a eficiência do transporte público na cidade.
II. Para o autor, a valorização do transporte coletivo urbano está atrelada a aspectos estruturais e arquitetônicos das estações de
metrô e pontos de ônibus.
III. A informação sobre o número de habitantes da cidade de Istambul e a comparação do Brasil com a Turquia permitem que o leitor avalie a possibilidade de iniciativas para a melhoria do transporte coletivo em São Paulo.
Está correto o que se afirma apenas em
A) I e II.
B) I e III.
C) II.
D II e III. E
E) III.
4ª QUESTÃO
(ITA) Assinale a opção que NÃO se pode pressupor do texto.
A) O transporte de massas em São Paulo pode degradar a paisagem urbana.
B ) Os pontos de ônibus do corredor da Rebouças dificultam o trânsito.
C) Em Istambul, as estações de monotrilho não reduziram os espaços para os carros.
D) Numa cidade de 16 milhões de habitantes em um país emergente não se espera o cuidado com os abrigos, bancos e iluminação.
E) A criação de corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas é condição necessária, mas não suficiente.
5ª QUESTÃO
(ITA)A possível instalação de uma estação do metrô na avenida Angélica e a reação por parte de moradores de Higienópolis gerou muita polêmica e manifestações, que foram veiculadas na mídia impressa e virtual. Assinale a opção, cuja manifestação NÃO constitui uma ironia.
A) “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” (cartaz que integrava uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu).
B) “Nós queremos o metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália.” (frase de um participante de uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu).
C) “É tão fácil resolver problema, gente: faz uma entrada social e uma de serviço.” (Luísa Tieppo, no Twitter)
D) “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada.” (moradora de Higienópolis, em reportagem da Folha, 13/08/2010).
E) “Não se esqueçam dos sacos de lixo. Somos diferenciados, mas somos limpinhos” (convite virtual divulgado no Facebook para o “Churrascão da Gente Diferenciada”, uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu).
GABARITO:
1 - A /2 - B/3 - D/4 - C/5 - D
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