V – O samba
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um
maciço de construções, ao qual às vezes recortam no
azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas
fustigadas pelo vento.
(...)
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que
tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes
com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões
que o fecham como praça d’armas.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão,
que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o
samba com um frenesi que toca o delírio. Não se
descreve, nem se imagina esse desesperado
saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula,
sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudarse.
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no
cangote das mães, ou se enrolam nas saias das
raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e
pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um
desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido,
que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou
consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe
em seco. (...)
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
07. QUESTÃO
Para adequar a linguagem ao assunto, o autor lança mão também de um léxico popular, como atestam todas as palavras listadas na alternativa
A) saracoteio, brasido, rabanar, senzalas.
B) esperneiam, senzalas, pincham, delírio.
C) saracoteio, rabanar, cangote, pincham.
D) fazenda, rabanar, cinzas, esperneiam.
E) delírio, cambalhotas, cangote, fazenda.
08. QUESTÃO
Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que
A) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda.
B) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo.
C) teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a caracterizar a cultura brasileira.
D) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista disfarçado.
E) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da mão de obra escrava nos cafezais paulistas.
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