Com base no texto a seguir responda as questões de 01 a 03.
Texto 1: A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas?
Por Francisco Fernandes Ladeira
À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um poderoso instrumento de manipulação, A ideia de que o frágil cidadão comum é impotente frente aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adomo e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio toma todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de C/asse, Sarah Chucid Da Viá afirma que o video apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica", apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao entramos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
[...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam", afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. Seguindo essa linha de raciocínio, no original estudo Muito Além do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva constatou como telespectadores do Jornal Nacional acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou coletivos, para filtrar as informações veiculadas, traduzindo-as segundo seus próprios valores. “A síntese e as conclusões que um telespectador vai realizar depois de assistir a um telejornal não podem ser antecipadas por ninguém; nem por quem produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao mesmo tempo que aquele telespectador”, inferiu Carlos Eduardo.
Adaptado da http:,7obse(vatoriodaimprensa com br/imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-da-manipular-as-pessoasy (Publicado em 14/04/2015, na edlçSo 046. Acesso em 13/07/2016.)
01. QUESTÃO
O autor do texto
O autor do texto
a) acredita que a mídia controla e manipula todos os cidadãos, independentemente de sua condição socioeconômica e cultural.
b) mostra o poder absoluto da mídia de deturpar a realidade dos fatos, tornando os cidadãos alienados e passivos.
c) mostra ao leitor que a mídia tem total poder de influenciar o seu público, principalmente pelas redes sociais.
d) prova a tese de que a mídia manipula os leitores, respaldando-se em importantes estudiosos da cultura de massa.
e) sustenta a ideia de que a mídia é apenas um dos fatores que interferem na construção da opinião dos indivíduos.
02. QUESTÃO
De acordo com o ponto de vista do autor,
I. fatores subjetivos/psicológicos são os mais influentes na formação das opiniões e superam até mesmo a incondicional influência midiática.
II. a homogeneidade dos programas de rádio e de televisão é a responsável pela manipulação midiática das opiniões.
III. é impossível determinar como o indivíduo interpretará as informações veiculadas por um telejomal.
Está(ão) correta(s) apenas
a) I e II.
b) I e III.
c) II.
d) II e III.
e) III.
03. QUESTÃO
Com relação às estratégias argumentativas utilizadas no texto, é correto afirmar que o autor
a) vale-se da pergunta retórica do título, respondida afirmativamente por ele mesmo.
b) apresenta apenas posicionamentos de estudiosos que são idênticos aos seus.
c) vale-se do uso das aspas nos quatro momentos para se distanciar daquilo que é dito.
d) utiliza a primeira pessoa do plural para se aproximar do leitor e o persuadir sobre seu ponto de vista.
e) apresenta com total imparcialidade pontos de vista diversos sobre a manipulação da mídia.
02. QUESTÃO
De acordo com o ponto de vista do autor,
I. fatores subjetivos/psicológicos são os mais influentes na formação das opiniões e superam até mesmo a incondicional influência midiática.
II. a homogeneidade dos programas de rádio e de televisão é a responsável pela manipulação midiática das opiniões.
III. é impossível determinar como o indivíduo interpretará as informações veiculadas por um telejomal.
Está(ão) correta(s) apenas
a) I e II.
b) I e III.
c) II.
d) II e III.
e) III.
03. QUESTÃO
a) vale-se da pergunta retórica do título, respondida afirmativamente por ele mesmo.
b) apresenta apenas posicionamentos de estudiosos que são idênticos aos seus.
c) vale-se do uso das aspas nos quatro momentos para se distanciar daquilo que é dito.
d) utiliza a primeira pessoa do plural para se aproximar do leitor e o persuadir sobre seu ponto de vista.
e) apresenta com total imparcialidade pontos de vista diversos sobre a manipulação da mídia.
01. QUESTÃO
-------------------------------------------------------------------------------------------------- RESPOSTA: E
Resposta Comentada:
Segundo o autor do texto, as relações entre mídia e público são complexas: não são apenas as mensagens recebidas pelos indivíduos que interferem na construção de suas opiniões, mas também os “fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja)”.
02. QUESTÃO
-------------------------------------------------------------------------------------------------- RESPOSTA: E
Resposta Comentada:
A proposição I está errada, pois o texto não hierarquiza os fatores que influenciam a formação das opiniões.
Em relação às duas outras, o melhor raciocínio para admitir que a II está incorreta e que a III está correta é o seguinte: o texto cita várias autoridades, entre as quais se destacam os teóricos da Escola de Frankurt (cuja tese está na proposição II) e intelectuais brasileiros contemporâneos (representados na proposição III). O enunciador está ideologicamente mais próximo destes do que daqueles.
-------------------------------------------------------------------------------------------------- RESPOSTA: D
Resposta Comentada:
Parece-nos que a Banca deseja que o aluno assinale a alternativa D, que afirma que o uso da primeira pessoa do plural (“Todos nós, ao entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos [...]”) é uma estratégia para se aproximar do leitor e persuadi-lo. Pesa contra essa alternativa o fato de esse uso poder ser uma embreagem, em que se neutralizam a primeira e a terceira pessoas, para produzir efeito de generalização, diminuindo assim o efeito de subjetividade dessa construção.
A alternativa C não é completamente absurda, se entendermos que as aspas são, sim, um forma de distanciamento discursivo, uma vez que elas marcam a fronteira entre dois discursos. Não se trata de um distanciamento ideológico, mas meramente formal, pois há dois níveis diferentes de delegação de voz no texto. Exigir essa percepção talvez seja exagerado em uma prova voltada para estudantes de nível médio.
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